O velho da horta
Textos
Foi buscando estimular e desenvolver o Teatro de Animação do Rio de Janeiro que o RIOARTE e a Secretaria Municipal de Cultura decidiram criar a Coordenação de Teatro de Bonecos e de Animação. Além de programar representantes desta Arte em diferentes Teatros da cidade, de realizar uma Mostra Internacional de Teatro de Animação de grande êxito, de realizar Oficinas, de organizar uma exposição e de apoiar instituições e grupos ligados às Artes do Boneco, a Coordenação ganhou do RIOARTE o papel de selecionar grupos e projetos que pudessem ser patrocinados em sua criação. Por sua oportunidade e consistência, o espetáculo O Velho da Horta foi um dos merecedores deste patrocínio. No ano dos 500 anos de Gil Vicente, uma das pedras fundamentais do Teatro em língua portuguesa, O Velho da Horta tem, ainda, o mérito de levar o autor ao conhecimento das crianças e jovens, com toda a riqueza plástica e técnica de um Teatro de Bonecos da maior qualidade. Mais do que isto, esperamos que o patrocínio à criação deste novo espetáculo consolide a existência de um Grupo que, por sua seriedade, empenho e garra, vem-se constituindo um dos maiores expoentes do Teatro de Animação do país.
Luiz André Cherubini
Coordenador de Teatro de Bonecos e de Animação da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro
Quando nos surgiu a idéia de montar uma peça de Gil Vicente, em virtude dos 500 anos de seu primeiro trabalho para os palcos, vimos que seria a chance de montar, do “nosso jeito”, um texto clássico. Das 15 obras que lemos do autor português, foi justamente a última, O VELHO DA HORTA, que veio ao encontro de nossos moldes, ambições e custos: uma peça raramente montada, com poucos personagens e um humor bastante atual.
Um atrativo especialmente interessante da peça era o tema do amor desmedido e suas conseqüências, já enfocado de modo irônico em nosso primeiro espetáculo, Sangue Bom. A impressão era de que os diálogos inexistentes no trabalho anterior da companhia estavam escondidos há muito nesta graciosa comédia quinhentista.
Recriar o ambiente do Velho, reproduzindo a horta em miniatura, era um desafio e tanto. Não menos complexa foi a tarefa de tornar o texto inteligível aos ouvidos de agora, passando ao largo das empolações medievais e das notas de rodapé. Após várias adaptações, estão lá a picardia e os versos característicos de Gil Vicente, prontos para a nossa cena com bonecos.
Falar do amor sem medida pode parecer tolo numa era que clama por objetividade. Mas o amor deixou de ser importante? Pelo contrário, vivemos num mundo pequeno demais, globalizado demais e, no entanto, sentimo-nos cada vez mais sozinhos. A complexidade deste sentimento continua a dificultar sua compreensão plena. Vêm daí tantos enganos, tropeços e quedas.
A farsa O VELHO DA HORTA, escrita em 1512, já insinua esta falta de compreensão, que causou tamanha dor ao protagonista. Encená-la para os jovens deste século não é simples, pois é preciso atenção redobrada. O nosso esforço é para que se entenda desde cedo que o amor, ainda que cego, é capaz de nos tornar seres humanos muito melhores.
Miguel Vellinho, texto do programa