A chegada de lampião no inferno
Críticas
Crítica do espetáculo A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO
JORNAL O GLOBO
Segundo Caderno
21 de abril de 2009.
Atores e bonecos em espetáculo de qualidade
A chegada de Lampião no inferno: Bem realizado
por Bárbara Heliodora
A Cia. PeQuod vem a uma década apresentando trabalhos de teatro de bonecos, sempre de alta categoria.
Agora, declara Miguel Vellinho no programa, “A chegada de Lampião no inferno” (cartaz do teatro 3 do CCBB) concretiza um antigo sonho de apresentar um espetáculo essencialmente brasileiro, recorrendo – em conteúdo e forma – ao Nordeste.
O roteiro é construído em torno da figura folclórica de Lampião e seu bando de cangaceiros, usando, para evocá-los a consagrada forma dos bonecos de Mestre Vitalino. A dramaturgia de Mário Piragibe e Miguel Vellinho (o diretor) é menos satisfatória do que seria de desejar, mas a linguagem de sua expressão cênica é muito interessante, com a mescla das lindas figuras de barro e atores, que evocam os que as fazem.
Universo popular lindamente representado
A encenação começa muito bem, com os integrantes do PeQuod representando o universo da fabricação dos clássicos bonecos de barro e ligando o ruído do trabalho em si com o ritmo da música popular brasileira.
Com um fundo de prateleiras ocupadas por exemplos de seu trabalho (que eventualmente se transforma em painéis sugestivos do inferno), os elementos principais da cenografia de Carlos Alberto Nunes são grandes tambores vazios e placas de madeira, que tanto formam a mesa do trabalho quanto todos os outros ambientes, inclusive os acidentados percursos por onde viajam os cangaceiros, a fim de atingir as várias vilas que atacam (lindamente representadas por igrejas, casas, figuras humanas e animais em miniatura), tudo completado pelo acerto dos figurinos de Daniele Geammal.
A música de André Abujamra é excelente. Elemento maior do espetáculo, é claro, são os bonecos, modelados por Andréa Kossatz, e feitos por ela, Márcio Newlands, Michel Souza, Thiemy Katayama.
Como sempre, o manejo dos bonecos é exemplar, e é preciso ressaltar além dos “vitalinos”, a excepcional execução ( tanto das máscaras quanto da composição corporal) do monstro de três cabeças que aparece no inferno.
“A chegada de Lampião no inferno” não chega a atingir o altíssimo nível do “Peer Gynt”, do mesmo grupo, porém o trabalho do PeQuod, como sempre, é resultado de muita pesquisa formal e, com esse espetáculo, o público tem não só a ocasião de conhecer mais uma versão do folclore de Lampião, como também a de assistir a um espetáculo interessante e bem realizado.