Textos
2 de março de 2015
Ficha técnica
2 de março de 2015

Críticas

O velho da horta


 

Críticas

Crítica do espetáculo O VELHO DA HORTA
O ESTADO DE SÃO PAULO
Caderno 2
26 de setembro de 2003.

O prazer do amor maduro
Dib Carneiro Neto

Texto farsesco de Gil Vicente ganha montagem para crianças e alerta para o descaso com os idosos

Depois da bem-sucedida temporada no Rio, em que arrebatou prêmios como o da RioArte/Maria Clara Machado, na categoria especial, concorrendo também com cenário e iluminação, está em cartaz no Centro Cultural São Paulo o espetáculo de bonecos O Velho da Horta, da Cia Pequod de Animação.

Vale a pena prestigiar com toda a família ainda que não seja propriamente um espetáculo infantil. A presença dos bonecos - aliás, muito bem confeccionados e manipulados – não é garantia de que a peça entretenha os pequenos por muito tempo. Falta um certo ritmo e um pouco mais de graça (não só humor, mas leveza, doçura) na concepção do grupo dirigido por Miguel Vellinho.

Dois fatores fazem o melhor de O Velho da Horta: o cenário e o tema. A enorme horta em miniatura que se estende pelo palco é competentemente encantadora. Sozinha, a cenografia do espetáculo é capaz de estimular a fantasia da platéia – e não é o que se espera de todo cenário no teatro?
Quanto ao tema, trata-se do amor maduro, do amor na terceira idade, retirado da farsa homônima escrita pelo português Gil Vicente em 1512. O velho do título cai de paixão por uma das jovenzinhas consumidoras de suas frescas hortaliças, porém ela não só o despreza, como o rouba e o engana. Ainda assim, ele a ama cego e ingênuo, retirando desse amor todas as forças para prosseguir animado na velhice.

Num tempo em que a velhice é cada vez mais encarada com preconceitos e a terceira idade carece de condições mínimas de respeito e solidariedade, uma peça que escancara o amor sem medidas e sem limites de idade é programa obrigatório, social e didático. Para ajudar a criar um ser humano melhor.

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